18 março, 2008

Vinho Tinto



Esperavam, com ansiedade, aquela noite em que tomariam vinho.
A mulher, há tanto tempo desejada, estava agora ao alcance das suas mãos e boca. Há tempos que a ânsia do desejo o esburacara bem no meio do corpo. Por isso não saberia dizer de qual das duas metades estava mais nu. Quanto mais o medo lhe tomava pelas pernas, mais ele apertava com força o copo; e fitava com o olhar paralisado a cena que desenhava em sua mente, antecipando o momento de tocá-la. Só não discernia com clareza se o faria primeiro no corpo ou na alma, não haviam certezas. Não se dava ao luxo a imutabilidade dos insanos.
E assim ele fantasiava e esperava adolescentemente por ela, pela mulher do seus sonhos! Mas como a "coisa idealizada" nunca é a "coisa em si", só a vontade revelaria a verdade... e verdadeiramente entre eles havia calor e um cheiro doce que arrepia.
Então veio a verdade, nua e crua.
Caíra a deusa idolatrada direto nos braços daquele que a tomara como mortal! Caíra! Completa e mente embriagada dele... só dele, do Vinho Tinto!
E a "coisa em si", não o objeto de desejo, fora incorporada com saliva e suor, à meia luz e sem lençóis. Nenhum dos dois sentiu frio até raiar o dia.

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